É inútil perguntar de onde nasceu a ideia tão tipicamente humana da dualidade intrínseca dos conceitos. Ou, mais comummente falando, os opostos. Chega a ser parvo começar a pensar quando, em que momento histórico, e onde é que pela primeira vez alguém chegou à conclusão que algo era o contrário doutra coisa. Vamos lá agora nós adivinhar que o primeiro homem consciente que existiu neste mundo se apercebeu que ter frio era o oposto de ter calor e que levar uma traulitada nos cornos era o oposto de um abraço.
É absurdo.
É indiferente.
“É uma folha”, como dizia Camus.
No entanto, acho que não seria grande disparate dizer que a nossa vida é em grande parte composta por essa dualidade de conceitos.
Certo é contrário de errado.
Bom é contrário de mau.
Frio é contrário de quente.
Agradável é contrário de desagradável.
Depois existe o todo que é o contrário do nada e que, se pensarmos bem nesse sentido, pode ser aquilo a que chamamos áreas cinzentas. Se virmos o todo, conseguimos ver as nuances? Mas até isso é parvo questionar.
É absurdo.
É indiferente.
“É uma folha”, como dizia Camus.
E então ficamos com os opostos, até porque na maioria dos casos são simplificadores de acções e sentimentos. Não estaria eu a escrever um post sobre opostos se não fosse mais fácil. Difícil era escrever sobre o nada (ainda estou a tentar) ou escrever sobre tudo (ficava aqui a vida toda). Atrevo-me a dizer que só conhecemos o bom porque sabemos que podia ser melhor ou porque já tivemos pior, ou porque alguém está pior que nós. Só conhecemos o frio porque se vestirmos um casaco ficamos mais quentinhos, ou porque já tivemos calor quando foi verão. Hoje a cabeleireira só ficou espantada quando eu lhe disse que queria o cabelo curto porque eu tinha o cabelo comprido. Básico, certo? Mas inútil, ainda assim.
Absurdo.
Indiferente.
“Uma folha”, como dizia Camus.
Inevitavelmente, somos metades. Metade compostas por esses opostos; ou um ou outro. Metade até do que somos, do que poderíamos ser. Do que fazemos e fizemos, do que poderíamos fazer e do que poderíamos ter feito. Essa merda da dualidade de conceitos obriga-nos muitas vezes a ser uma ou a ser outra. E assim nunca somos o todo. Pior! Assim, nunca seremos o nada. Somos metades que flutuam num mundo cheio de outras metades e mesmo o mundo é demasiado grande. Até esta merda desta laranja em que nos enfiaram é um pontinho absurdo no meio de um universo infinito!
É absurdo.
É indiferente.
“É uma folha”, como dizia Camus.
E os que querem ser nada? Censura-los assim tanto, porquê? É assim tão ilógico querer ser nada num mundo de metades? É assim tão ilógico querer ser nada num mundo de gente que não pode, não consegue, não há-de nunca ser tudo? Se essa dualidade de conceitos serve para simplificar tanta coisa, que sirva para isto: se não posso ser tudo, quero ser nada; se não podes ser tudo, sê nada!
Em suma, e parafraseando, és todo o Nada que existe no mundo.
Olha lá, mas tu enlouqueceste de vez? já ´tas a falar contigo na 2ª pessoa?!
1 comentário:
Na verdade somos um nadinha de pó que resultou do milagre da vida no universo. Certo dia ha milhoes de milhoes de anos a materia impôs-se sobre a anti-materia e venceu, ainda ninguém sabe muito bem porquê...mas lá está, é indiferente...
Enviar um comentário