Não sai. Pegamos no sabão, passamos ligeiramente nas mãos, debaixo da água que escorre da torneira ferrugenta e barulhenta. Ensaboamos, primeiro devagar, com alguma suavidade; depois começamos a imprimir alguma força. Espalhamos cuidadosamente o sabão para que cubra uma área cada vez maior, até aos braços, até aos cotovelos. Agora, com mais força; e depois, com mais força ainda. Esfregamos já, mais rápido; cada vez mais rápido, mais fundo. Na pele, debaixo das unhas; por baixo da pele…
Mas não sai.
Depois vem a água fria; outra vez. Nós sabemos, esperamos por ela, antecipamos o contacto. Mas o arrepio é inevitável; o espasmo, a leve retracção. Não que não seja agradável. É, e por isso logo nos habituamos.
Porque é a água fria que nos tira a espuma das mãos; é o conforto do frio que nos confirma a inutilidade da tentativa de as lavar.
E vemos que não saiu.
Fecha-se torneira. Pega-se na toalha. O frio fica ainda por uns minutos, as mãos secas vão ficando ásperas. Largamos a toalha e depois pensamos noutra coisa qualquer. Porque pensar nisto ou noutra coisa qualquer em exclusividade durante muito tempo, ou tirar disto mais do que a constatação da necessidade de limpeza física de um par de mãos sujas, é uma inutilidade e seria absurdo.
Assim é porque ainda não inventaram um sabonete para a alma…
"As Mãos Sujas" é uma peça da autoria de Jean-Paul Sartre, filósofo e escritor Existencialista.
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