sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A Nova Liberdade Global (ou Freedom Tastes Like Lemon Pie)


Na China, bloqueia-se o acesso a sites internacionais e impede-se a saída de informações para o estrangeiro, ao mesmo tempo que se prendem intelectuais como limite à liberdade de expressão. Nos Estados Unidos, e um pouco por todo o mundo, os estúdios, empresas de distribuição, sociedades protectoras de direitos de autores, gastam rios de dinheiro para inventar novas técnicas e novas tecnologias para combater a massificação da pirataria e dissuadir ao consumo de bens pirateados. Em Portugal, a página da Wikipedia relativa ao Primeiro-Ministro foi alterada para que não mostrasse quaisquer referências à duvidosa carreira académica do Chefe de Estado.

Desenganem-se os leitores que pensam que o post que se segue vai servir para demonstrar os meios medíocres e deselegantes com que os dirigentes do nosso país escolhem limitar a liberdade dos seus habitantes. Se assim, fosse, eu teria usado como exemplo as cargas policiais sobre manifestantes durante protestos contra o governo. Sempre são mais deselegantes.

Pelo contrário, aquela pequena introdução relata apenas pequenos exemplos de como, em todo o mundo, um certo sentimento desvalorizado começou a desbravar caminho sem que o cidadão comum se apercebesse de que está a contribuir para ele. Falo-vos da liberdade, esse malfadado fardo que todos nós temos que carregar de vez em quando. Não será uma novidade admitir que o desenvolvimento dos meios de comunicação nas últimas décadas têm vindo a permitir um maior acesso a conteúdos de informação. Aliás, isso tem acontecido desde que um senhor bastante preguiçoso chamado Gutemberg resolveu inventar uma maneira de escrever mais rápido. É comum a todas as épocas o desejo de melhorar os meios de acesso à informação e, na maioria das épocas, as massas são geralmente as últimas a compreender o enorme poder que detém um pequeno cidadão informado (a ignorância e o atraso são características inatas do ser humano). Poderemos também alegar que esse poder depende da informação que lhe é transmitida, informação essa que pode ser manipulada pelos detentores dos meios. Ainda assim, (não se esqueçam do que eu escrevi sobre a ignorância, ser-vos-á útil ao longo do post) a culpa também está no cidadão, que se recusa a procurar e absorver toda a cultura a que tem direito. Mas, o meu interesse é simples: afastar-me da informação e do poder deliberadamente procurados pelo cidadão e aproximar-me da sua capacidade de absorver cultura sem se aperceber de que o está a fazer. Note-se a moda. Punk, Metal, Góticos, Popular Kids, Betinhos, Freaks. Ah! A variedade de escolha…! E no entanto, são modas. Não são mais do que produtos para as massas, feitos em massa, consumidos em massa, que alienam a personalidade e o poder de escolha do indivíduo. Pergunto-me se os milhares de pessoas que compram T-Shirts com a cara do Che Guevara sabem o que ele fez ou foi. E, no entanto ele anda por aí, no peito de muitos (e no coração de alguns).

Mas será que as pessoas absorvem mais do que isso? Será a moda, e a informação em geral, mais do que fast-food para a mente? As pessoas lêem os jornais diários e deitam-nos fora. Será que retêm alguma coisa? Será aquela informação suficiente? E no entanto, hoje existem jornais diários gratuitos, extremamente acessíveis. E, porque as pessoas os lêem e os largam no banco do metro, são lidos por muito mais gente.

Por falar em acessível, voltemos à Internet, esse interessante sinal dos tempos. “Citizen Kane”, considerado por muitos um dos melhores filmes de sempre do cinema Americano: 2 horas para completar o download. Não tem legendas, não tem extras, não tem comentário do realizador (nem poderia ter), não tem cenas cortadas… Não custou 25 dólares num site de importação nem 20 euros numa loja de DVDs. Não foi preciso apanhar o comboio e o metro para chegar à loja. Não foi preciso aturar o empregado carrancudo da loja, repetir o nome três vezes porque o empregado não sabia de que filme estávamos a falar; não foi preciso esperar três semanas para que o DVD viesse de importação, mais caro, sem legendas nem extras e com a última cena do filme escarrapachada na capa. Se isto não é liberdade, então o que é? Se não podemos considerar como liberdade o facto de em 2 horas, sem quaisquer chatices ou inconvenientes, termos o enorme prazer de ver uma obra-prima do cinema, então onde está a liberdade? Não está, isso tenho eu a certeza, nos lucros gigantescos das empresas de distribuição de DVDs. E o facto de eu poder publicar este post sem ter ninguém com um lápis azul na mão a espreitar por cima do meu ombro, sem ter que passar pelo escrutínio e controlo de qualidade de um chefe de redacção, algo me diz que isso também é liberdade.

Não se iluda, caro leitor. Não é a Internet que vai mudar o mundo e trazer equilíbrio de poder e de justiça à população mundial. E não será, com certeza, o próximo desenvolvimento tecnológico. Nem o próximo. Nem nenhum. Limite-se a aproveitar a pequena liberdade que tem hoje. E não deixe que o convençam que a liberdade não está nas pequenas coisas.

1 comentário:

Di disse...

estavas inspirada!
post mt inspirador mas nao posso concordar com tudo o q foi dito. ha algo q é cada vez mais preciso pensar q a tua liberdade começa onde a do seguinte acaba e vice versa... não querendo defender ninguem em particular mas acredito q o cidadão tem outras formas de demonstrar as suas duvidas em relaçao ao governo e os seus ministros... seria despropositado usar a wiki para troçar do ministro e acredito q qq pessoa alvo de chacota fácil e muitas vezes cobarde tem o direito a se defender... quer seja ministro ou nao. nao gosto de ver o insulto fácil e não fundamentado. percebo a polémica do diz que é mas não é mas não acho q haja problemas em não ser. quem me dera q em portugal os ministros legalmente licenciados soubessem metade do q alguns q não tem mais do que o 9oano.
falta de bom senso?
sem duvida... mas sera q a culpa é das politicas ou das pessoas q as motivam? talvez de ambos...