Fiquei a saber recentemente que uma pessoa não pode, pura e simplesmente, abdicar da sua nacionalidade e passar a ser apátrida. E fiquei a saber isto porque me apeteceu (e ainda apetece, agora até mais porque sei que não posso) deixar de ser Portuguesa em particular (porque é a nacionalidade que tenho agora e não por qualquer ódio especial a Portugal) nem deixar de ser de qualquer nacionalidade, no geral.
As minhas razões são ligeiramente complicadas, mas, trocando por miúdos, digamos que cheguei à conclusão definitiva que não existe nenhum país no mundo (muito menos Portugal) em que o Estado coincida com a Nação. O Estado não passa de uma elite que governa com vista a interesses próprios e cujo objectivo é perpetuar as condições óptimas de governação. As suas, enquanto lá estiver, e as das elite que se seguirem, quando, democraticamente ou não, abandonar o poder. E porque, olhando para o mapa político do mundo, não existe nenhum país onde isto não aconteça, eu não posso sequer mudar de país na esperança de encontrar um com um regime melhor (porque o regime melhor não existe). E agora não me apetece fazer uma revolução… (ler post acima)
Portanto, eu queria, se não fosse pedir muito, que me retirassem a nacionalidade e não me dessem nenhuma em troca. Mas não faço ideia como fazer isso. Não sou refugiada de nenhum país, o “meu” país existe, não se encontra em guerra civil nem em guerra com nenhum vizinho, o seu solo não foi ocupado numa ofensiva militar nem houve um golpe de estado que mudasse radicalmente o sistema político para um ao qual sou ideológica e radicalmente contra. A não ser que nos próximos meses o PNR faça um ataque à residência oficial do primeiro-ministro (coisa que, confesso, gostava de ver e filmar) não vejo outra alternativa.
Recuso-me a ser espezinhada por um Estado sufocante que governa em favor próprio e que se dá ao luxo de legislar sobre aquilo que lhe dá mais jeito, alegando estar a legislar pelo bem comum e alegando saber aquilo que é melhor para mim, mais do que eu própria sei. Recuso-me a reconhecer a legitimidade de um parlamento que devia ser um legislador imparcial e um equilíbrio de poderes mas que na verdade não o é. Não tenho nada contra os pastéis de bacalhau em particular, mas não me apetece prestar-lhes culto como símbolo de uma tradição ou da cultura de uma nação que não passa de um conjunto amorfo de gente demasiado estúpida para se governar a si mesma. E se eu estivesse em Inglaterra dizia o mesmo dos Scones. Acrescentava-lhe, se calhar, um “Rule Britannia” no fim da frase, só para dar o ar de graça…
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