O último filme de Manoel de Oliveira (“Cristóvão Colombo – O Enigma”), o realizador mais idoso de todo o mundo actualmente no activo estreou no dia 10 de Janeiro nas salas portuguesas. O estilo de Oliveira levou a que se tornasse um realizador que ou se gosta ou se odeia. Mas a sua reputação a nível internacional levou a que muitos o considerassem um génio e que merecesse o respeito dos maiores realizadores internacionais, o que apenas se pode considerar uma enorme honra para todos os portugueses. Confesso que, como cinéfila que me considero, é uma enorme falha no meu “curriculum” nunca ter visto um filme deste realizador mas isso não me impede de me sentir orgulhosa dele e muito menos de me sentir revoltada quando soube que o filme apenas estreou em cinco salas de todo o país. Mais ainda quando soube que o ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual) assinou um protocolo com o realizador que consiste em quase 700 mil euros de ajuda financeira aos seus filmes “Cristóvão Colombo – o Enigma” (estreado a 10 de Janeiro) e “Singularidades de Uma Rapariga Loira” (a estrear).
O descrédito pelo talento dos artistas portugueses é conhecido e sistemático e algo a que já estamos habituados, infelizmente. O que denota também uma falta de respeito pelo trabalho desses mesmos artistas. Inconsistentes e inesperadas são as atitudes das distribuidoras portuguesas perante, nomeadamente, as acções de instituições como o ICA. Seria de esperar que, mesmo pensando numa lógica puramente económica, o interesse imediato é o da recuperação ou justificação do dinheiro investido. Assim, não compreendo como o filme estreou em tão poucas salas. E compreendo menos ainda como é que filmes como “O Crime do Padre Amaro”, “Corrupção” e “Call Girl” têm direito a estrear em 250 salas, com grandes publicidades e um enorme foco de enorme atenção a ser-lhes apontado. Aquando da estreia do seu filme, o realizador António Pedro Vasconcelos disse numa entrevista que o cinema português devia começar a aperceber-se da diferença de públicos que assiste filmes como o seu “Call Girl” e o público dos filmes mais independentes e que portanto se devia preocupar em financiar a aceitar os filmes criados propositadamente para atrair mais público às salas de cinema. Ou seja, se seguirmos o conselho deste realizador e as tendências do público português, vamos estar a criar uma clara divisão entre os filmes de autor e os blockbusters, sendo que aqueles que menos merecem vão ser os mais financiados e os que mais se esforçam por criar algo artístico e fiel à sua paixão pelo cinema vão continuar a ter muitas dificuldades em fazer um filme digno e genuíno.
António Pedro Vasconcelos tem razão quando diz que temos de repensar a maneira como o cinema português é feito actualmente e principalmente o seu futuro. Por isso mesmo, talvez fosse finalmente o tempo de reconhecer os esforços e o talento daqueles que fazem filmes sem pensar nas compensações económicas nem em agradar a um público que precisa de ser educado a consumir qualidade e não quantidade. Ou então arriscamo-nos a aproximarmo-nos da indústria americana cujo interesse parece ser cada vez mais o de vender um produto a um público cada vez mais ignorante. E Portugal vai pelo mesmo caminho quando insiste em estrear filmes como o “Não me Toques nas Bolas” e ignora quase totalmente filmes mais independentes, nomeadamente os filmes portugueses, que são reconhecidos e premiados constantemente no estrangeiro.
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