quarta-feira, 10 de outubro de 2007

It's a girl thing

Jeff Robinov, presidente dos estúdios Warner Brothers, anunciou recentemente “We are no longer doing movies with women in the lead” (Deixaremos de fazer filmes com mulheres como protagonistas). Pela simples razão de que estes filmes não são rentáveis nas bilheteiras dos E.U.A. Em pleno século XXI, esta decisão pode parecer chocante para a maioria das pessoas que leram esta declaração. No entanto, para mim que sou uma perfeita descrente das qualidades da raça humana, já nada me espanta.

Não é que eu tenha pena das coitadinhas da Nicole Kidman ou da Sandra Bullock que vão ficar desempregadas. Não é esse o caso. Mas pondo de lado o aspecto óbvio da injustiça e da descriminação (parece que voltámos aos tempos em que as mulheres não serviam para mais num filme do que uma cara bonita para seduzir o protagonista ou que os actores negros não eram aceites para papéis, nem sequer secundários) pergunto eu se os senhores produtores de Hollywood não se importam com o facto de muitos filmes bons terem personagens femininas fortíssimas como protagonistas? Lembro-me de “O Silêncio dos Inocentes”, “Ligações Perigosas”, “Monstro”, a saga “Terminator” ou a saga “Alien”, já para não falar dos “biopics” sobre as grandes mulheres da História, como o “Elizabeth” ou “The Queen”.Posso-vos dar também o recente exemplo do filme “300” em que a personagem da Rainha Gorgo, que só aparecia em uma página do livro de Frank Miller, foi expandida na adaptação ao grande ecrã e tornou-se uma peça, se não importante, pelo menos interessante no desenrolar do filme. E de certeza que existem muitos mais exemplos que de momento me esqueço. Também não é surpresa para ninguém perceber a validade do argumento do Sr. Robinov: se não faz dinheiro, não interessa. Porque outra razão ainda se permite que se façam filmes como “I now pronounce Chuck and Larry” ou o “Superbaldas”? Se nesta indústria a arte falasse mais alto, estes scripts seriam imediatamente queimados, qual Inquisição, para abrir caminho a verdadeiramente bons filmes que por vezes nem passam das secretárias dos grandes produtores de Hollywood, simplesmente por razões financeiras.

Dando o nosso belo país, que tantas vezes criticamos, como exemplo, posso dizer-vos em primeira-mão que muitas vezes ouvi pessoas (no decurso dessa minha profissão que tanto me honra, a de vendedora de sonhos (bilhetes) para amantes do cinema) dizerem “Qual é o filme com a Catherine Zeta-Jones? È mesmo esse que eu quero ver!” ou “É um bilhete para aquele da Angelina Jolie”. Também é verdade que o “Bourne” e o “Declaro-vos marido… e marido” (uma bela tradução, notem as reticências) foram sucessos de bilheteira. Mas se a minha própria gerente, do sexo feminino, não pensa duas vezes em recusar filmes como “Imagine me and you” ou em atirar com o filme “Sem Reservas” para a sala mais pequena, como é possível combater estes preconceitos nos homens que verdadeiramente mandam na indústria?

Deixo-vos, para terminar, com Gloria Allred, advogada famosa nos E.U.A. pela sua acção na defesa dos direitos das mulheres e com a sua resposta a esta declaração do presidente da Warner:

“Se foi isso que ele disse, então quando os filmes com homens como protagonistas falham [nas bilheteiras], ninguém exige que parem de fazer filmes com homens como protagonistas. Isto é um insulto para todos os espectadores de cinema e principalmente para as mulheres. É uma infelicidade ver a culpa das decisões tomadas por homens [na indústria do cinema] recaírem sobre as mulheres. Em vez de aceitarem responsabilidades pelas suas próprias falhas na escolha de argumentos, realizadores e orçamentos, alguns homens da indústria do cinema preferem pôr a culpa pela sua falta de sucesso nas mulheres protagonistas e excluir actrizes talentosas das melhores oportunidades de emprego em favor dos homens. Se esse estúdio [a Warner Brothers] confirmar a sua política de excluir mulheres como protagonistas, então a minha proposta é um boicote a todos os filmes feitos pela Warner Brothers”

Notícia Original:
http://www.deadlinehollywooddaily.com/warners-robinoff-gets-in-catfight-with-girls/

1 comentário:

Madison Stark disse...

aaaah God Bless America!

continuo a achar que não
e uma questão de machismo é a tipica filosofia americana...

business as usual.