sábado, 7 de julho de 2007

O Terrível Mercenário da 1ª República

“Everyone is unique, just like everybody else”. Se esta frase simples, de autor desconhecido, é verdade, então o mesmo se pode aplicar a um país e ao seu povo. Cada país é um aglomerado único e excepcional de características, tradições, paixões, História e sentimentos de união que o tornam uma nação singular e inconfundível no meio de outras. E por isso, todos os países são únicos à sua maneira. Torna-se, assim, difícil para um nativo de qualquer região explicar a um estrangeiro as razões que o ligam a um território e a um povo e não a outro e também as razões que o fazem gostar e sentir orgulho na sua nacionalidade. No entanto, é minha convicção que, para um português, por viver no país tão singularmente único que é Portugal, se torna mais difícil ainda explicar o porquê de um laço tão forte com as suas tradições e o seu povo. Portugal, este excepcional e caricato país com quase 900 anos de História, é a nação com as mais antigas fronteiras oficialmente fixadas do mundo. E conseguiu, contra todas as adversidades externas e internas, com todas as ricas influências culturais que sofreu ao longo dos séculos, formar uma identidade própria para o seu povo.
Em que se revela, então, essa identidade? Que melhores exemplos usar para demonstrar a um estrangeiro aquilo que melhor define o “sentir-se Português”? Poderia falar-vos da língua, da cultura, da arte, da música, da tradição, do carácter do seu povo… Mas o que me motivou a escrever este pequeno texto foi o conhecimento recente que travei com uma figura da nossa História que, apesar de não muito conhecido e de ser considerado menos honrado para figurar ao lado de outros heróis nacionais, merece todo o respeito do mais acérrimo libertário e do mais orgulhoso português. De entre os homens e mulheres que ficaram para a posteridade como os grandes representantes do verdadeiro espírito nacional, João Borges é, para mim, o mais português dos portugueses. “João das Bombas”, como é mais conhecido, é no entanto, apelidado nos livros de História de mercenário e terrorista.
“Borges começou a sua vida numa oficina de latoeiro, para os lados do Arco da Graça. Em 1901, aos 20 anos, acompanhava um grupo de rapazes anarquistas e servia de cobrador do jornal “A Liberdade”, publicado por estudantes republicanos” (in História de Portugal, direcção de José Mattoso). Já por aqui se consegue perceber quais os ideais que motivavam o “João das Bombas”. Numa época em que a monarquia dava os seus últimos suspiros, e em que o Partido Republicano crescia em influência junto das massas descontentes, surgiram vários “gangs de delinquentes com largo cadastro” que lutavam pela liberdade e pela justiça contra a opulência da monarquia, o sempre corrompido poder da Igreja Católica e a ineficácia dos dois grandes partidos que se alternavam nos sucessivos, curtos e incapazes governos. Esses gangs foram mais tarde utilizados pela Primeira República como arma popular. Nesse mesmo ano de 1901, João Borges foi defendido em tribunal por Afonso Costa (que viria mais tarde a tornar-se a grande figura chave da Primeira República, contando com o apoio de “João das Bombas” e do seu “gang de delinquentes”) sob a acusação de “agitação anarquista”. Entre 1895 e 1910 foi condenado e preso por crimes como: bater na mãe, roubo, participações em motins anti-clericais, vadiagem, desobediência e insultos à polícia, agressão, arrombar uma casa, desordem e bebedeira e posse de bombas. “ João das Bombas era uma mistura de fadista e homem de mão: frequentava gabinetes de ministros e bordéis, tanto batia na mãe como nos padres, nos compinchas de taberna ou nos inimigos de Afonso Costa. Não era fácil distinguir nele a actividade política da simples delinquência.”
Parece-me a mim que “João das Bombas” foi simplesmente um incompreendido e usado anarquista de ideais vincados, que lutava pela liberdade não olhando a meios para alcançar honrados fins. Muitas vezes travado pelos seus opressores, não hesitou em abdicar daquilo que mais defendia, a sua liberdade, para poder questionar aqueles que oprimiam a liberdade dos outros. O seu carácter é discutível como é, aliás, o de todos os outros heróis nacionais. Podemos chamar assassino a D. Afonso Henriques e gananciosos a todos os que, em nome da sua Pátria, dos Descobrimentos e da fé cristã, pilharam ouro e escravizaram seres humanos das colónias portuguesas; Álvaro Cunhal era retrógrado e teimoso e o Marquês de Pombal era um déspota sanguinário. Ainda assim os historiadores conseguem em todos eles descortinar algo de positivo que fizeram pelo seu país. O meu objectivo é descortinar para os que lêem este texto o espírito libertário e os valores de João Borges. E assim conseguir provar que este país se construiu precisamente com o contributo de homens de métodos duvidosos mas que nem por isso deixam de ser “tipicamente portugueses”. A maioria das revoluções em Portugal foi feita de maneira violenta e de forma muito atabalhoada. Mas foram os ideais dos seus heróis que permitiram construir a tal identidade nacional. E é a esses heróis que recorremos quando tentamos descrevê-la e representá-la.
O herói português é tipicamente popular e violento, recorre a meios menos dignos e mais desastrados e ora é usado pelas elites políticas para defender os seus interesses ora é esquecido pela geração seguinte, apenas para ser recuperado séculos mais tarde como um grande herói nacional. Também há aqueles que, para evitar serem usados e esquecidos, manipulam tanto as massas como as elites e mudam de valores como uma bandeira que espera saber para onde o vento sopra. O herói português conta também com o destino, a sorte ou, se quisermos, a protecção divina. A maioria das conquistas portuguesas foi feita por golpes de sorte mais do que por golpes de génio. Mas não é por isso que deixamos de adorar os nossos heróis e que deixamos de procurar todas as semanas nos jornais pela notícia de um homem chamado Sebastião que apareceu como por milagre numa manhã de nevoeiro. E chamamos imediatamente Sebastião a todos os que indiciam poder salvar-nos, mesmo que esses “Sebastiões” não passem de interesseiros e charlatães. Faz parte. É típico dos portugueses.

Assim, para repor a verdade dos factos e em nome de valores honrados, escolhi este texto para iniciar a minha aventura no mundo dos bloggers. Espero que seja do agrado dos leitores (que não serão muitos, com certeza…). E que o espírito revolucionário de “João das Bombas” esteja convosco!

5 comentários:

Syle disse...

Escolheste um texto e umas palavras bem à altura. Aposto que nao sou a unica a nunca ter ouvido falar nesse "Joao das Bombas" que, de formas mais agressivas, tentava lutar pela liberdade...
;)
continua...
*

positivanarkist disse...

muy bien,
que viva portugallo :P
bem, nao conhe�ia tamanha personagem, foi um "apagado" da historia, mas s� nao gostei da idea de louvar a patria utilizando um "heroi" anarquista.
mas ok :P
mt bom, boa sorte pro blog, venho sempre espreitar

Xana disse...

Ola minha rica amiga Xodona Tixinha! Quero desde ja congratular-te, pois escreves muitissimo bem! Eu realmente desconhecia por completo este Xor "Joao das Bombas"... So ha uma coisinha q prontos... Epa, bater em padres ainda se compreende, mas bater na sua rica maezinha e que... nao fosse ele portugues, ne?... Minha rica kiduxa, um muito obrigada por esta rica liçao de historia, e sempre bom ter uma amiga que nos enriquece a nivel intelectual constantemente! Um grande bem haja a este blog, esperando eu do fundinho do meu coraçao que fique para durar! Muitos beijinhos bons desta tua amiga do deserto! :D ***

Milax disse...

concordo com a xana. bater na mamã não está com nada. cmo estou em epoca de exames ( e tu tb minha rica amiga) cada vez que oiço falar nesse sr só penso "será k o sr João me podia dispensar uma bombinha?" enfim, brincadeiras à parte, parabens plo blog:) bj

Working Class Hero disse...

Muito obrigada caros amigos e camaradas! De momento nao tenho temopo pra escrever mais mas desde já agradeço do fundo do coração terem passado por aqui. Mais posts se seguirão assim que acabar os exames e que tiver net! Abraços e beijinhos e um grande copo de espirito revolucionario! Saúde!